quinta-feira, dezembro 08, 2005

Fim de semana inesquecivel (3)

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Abriu porta dos bancos traseiros do seu Peugeot 407, sentou-se numa ponta, tirou os sapatos e colocou as pernas em cima do banco. Dei a volta e abri a outra porta. Olhei em volta numa tentativa um tanto desesperada, de encontrar uma posição relativamente cómoda. Logo conclui que, na vida nada é fácil e tudo tem que ter um preço. Lá consegui encontrar uma forma de executar a árdua tarefa de massajar os pés da coitada, à custa, diga-se, de uma boa dose de dores nos rins. Creme, massagem e a visão de umas coxas perfeitas e, lá no fundo, um triângulo branco, ligeiramente transparente.

As massagens, para mim, são sempre um campo por descobrir. Quero dizer que não sou nenhum perito, mas tenho sempre uma tremenda disposição para aprender. Ai, esta minha fome de sabedoria! Por vezes faço descobertas sensacionais, outras cedo à tentação de explorar novos horizontes e, de quando em vez, tenho a sorte de encontrar alguém disposta a ensinar. Nestas circunstâncias sou sempre um aluno atento e esforçado. Só que, nessas ocasiões, tenho uma posição mais cómoda. Confesso que não tenho memória de alguma vez ter ficado com uma terrível dor nos rins. Num dado momento, a dor era tão aguda que a minha vista ficava turva e eu não conseguia ver com nitidez até lá ao fim. Paciência, não se pode ter tudo.

Mas que raiva! Como é mesmo nome dela? Deslocou aquelas duas belezas para baixo, calçou os sapatos e saíu do carro. Pelo meu lado, endireitei-me e, disfarçadamente, esfreguei os rins. Reconheço que não sou bom de rins, mas sempre me desenrasco no jogo de cintura.

Como tudo aquilo me pareceu um tanto estranho e com uma boa dose de exotismo, desde o primeiro sorriso até àquele momento, não consegui projectar para um futuro imediato o que poderia vir a acontecer. Desde o tempo em que dançar era um exercício executado por dois corpos bem juntinhos que sei que a melhor coisa a fazer é seguir o compasso da música, não pisar os calos do parceiro e, se possível, dar ligeiros apertões, de modo disfarçado. Pois que assim seja. Dei a volta ao carro e fiquei junto dela.

- Será que nos podemos encontrar de novo? – Perguntou.

Perguntar ao esfomeado se quer comer… Só uma resposta possível, onde, como, quando, pode ser já? Claro que não foi nada disso que disse. Afinal, que diabo, sou um cavalheiro.

- Terei nisso o maior prazer. – Respondi com o melhor e mais fascinante dos meus sorrisos.

- Tenho de o compensar por todo este trabalho. Será que posso convidá-lo para jantar?

Naquele momento, a uma velocidade superior à da luz, passou pela minha mente mais de um milhão de formas de me compensar. No final, fiquei-me por umas duas ou três. Também não convém ser exagerado.

- Mas claro que sim. – Respondi. – Qual é o melhor dia para si? Hoje é quarta, que tal na sexta?

- Para mim está óptimo. Telefona-me, marcamos a hora e espero por si.

- Combinado. Na sexta telefono-lhe. Mas posso fazer mais logo, só para saber como estão os seus pés. – Quem não arrisca não petisca. Aquiesceu de imediato e eu fiquei a vê-la a ir-se embora. Na minha mão um pequeno papel com um número de telemóvel.

Ainda fiquei ali por mais uns instantes parado, sem saber se havia de voltar para a Fnac ou se me metia no carro e ía embora. Resolvi pela segunda opção. Duvido que conseguisse a necessária concentração para prosseguir a leitura. Só que, por uma questão de respeito pelo trabalho de cada um, decidi num ápice, comprar o livro do Paul Auster. Não seria decente começar a ler um livro e não ir até ao fim. Sou muito rigoroso no que se refere a livros. Ora, uma pessoa pode ter as suas manias. Eu cá tenho as minhas.

Ao serão peguei no papel e comecei a marcar o número, mas parei a meio. Não estaria a ser precipitado? Mas ela aceitou a ideia de lhe telefonar mais tarde. Não queria transmitir uma ideia de que estava ansioso por voltar a ouvir a sua voz. Esta minha impaciência, um dia, ainda me causa dissabores. Que se lixe. Completei a marcação e aguardei até ser atendido.

Uns minutos de conversa sem grande sentido, uma ligeira referência aos pés e ao valor terapêutico do creme, um breve agradecimento à minha massagem e a promessa, que ambos sabíamos que nunca será cumprida, de ter mais cuidado na próxima vez que comprar sapatos. Culminou tudo isto na confirmação do encontro para sexta e uma pergunta da minha parte se poderia telefonar no dia seguinte. Mais uns quantos minutos, poucos, ocupados na troca de simpatias, sorrisos e piropos. O trivial.

Confesso que estou a sentir-me mal. Chegar a esta altura dos acontecimentos e continuar sem conseguir lembrar-me do nome dela é, no mínimo, confrangedor. E já perdi a conta aos inúmeros exercícios de mnemónica e nada. Já referi o sinal de nascença, em forma de losango, dez centímetros e quarenta e quatro milímetros exactos, abaixo do umbigo? Pois já. (Continua. É chato, mas tem de ser)

1 comentário:

Su disse...

Lá consegui encontrar uma forma de executar a árdua tarefa de massajar os pés da coitada, à custa, diga-se, de uma boa dose de dores nos rins

..ehehehehe tudo tem um preço mesmo
mas esse de não te lembrares ainda o nome da dita..opssss
que tal Maria:))

jocas maradas